[ Programa ] #157

Alô alô tropicaleiros e tropicaleiras!!

Apertem os cintos, peguem seus EPIs de segurança e já aumenta o som: preparades?

 


Nesta edição conferimos mais um set feito pela Grazi Flores, desta vez gravado para o Coletivo Núcleo, participando da edição de número 46 do Nucleocast, podcast do coletivo. Inclusive, eles terão uma pista no festival Vibe Lacuna III Edição, que acontece de 14 a 21 de julho. Este set, obviamente, está recheado e trabalhado em muito Techno, então venha de EPIs de segurança, hein?


>> vibe

Como se já tivesse se passado um tempo gigantesco do último rolê que havia dado, relembro as cenas daquele espetáculo que de tão confuso e intenso me deixou com o corpo apertado, a mente moída. Sim, peguei o ingresso para aquela intervenção artística e sabia que estava adentrando espaços nunca dantes navegados em mim mesma.

Sentei-me na confortável cadeira, as luzes apagaram-se e o ambiente do espetáculo começou. O silêncio pleno reinava, como se fosse um outro mundo, fora do meu conhecimento. Aquele vazio ensurdecedor crescia vertiginosamente, até que surgiu um leve apito ao fundo, um alarme qualquer. E aquela figura em destaque no centro da cena. O apito crescia e aquele corpo se movia, o apito ganhava a companhia de outros elementos e sonoridades, o corpo movia-se com maior intensidade. E quando os elementos sonoros se organizaram, compondo uma ordem clara e sensata, o corpo passou a caminhar até uma caixa. E aquela caixa, insossa, ordinária e que parecia ser tão justa e compactada, quase que sem espaço para a existência de outro ser além de si mesma, recebeu o corpo, envolto de um caos organizado em sons, e o acolheu. Guardou em si um pedaço de ser que escolhia como existir, para além de existir. E poderia ter tomado uma nova forma, um novo movimento pelo que carregava em si, mas acabou apenas recebendo aquele corpo, que tornou-se inerte, enfim, em meio ao conglomerado de silêncios que jogou a todos nós no limbo, novamente, do desconhecido silêncio pleno. E pleníssimo o corpo, inerte, com a força de seu próprio peso, se retrai em si mesmo, em silêncio, em gravidade.

O corpo estático, o mundo em silêncio.

E volto pro lugar presente e vejo que estava vivendo uma realidade confortável entre o medo e a criação de uma verdade inconsistente com a realidade. Não quero entrar na caixa, nem quero permanecer inerte. Quero adentrar o globo de luz vermelho que gira em formatos variados. Quero deitar num cômodo inteiramente banhado pelos tons de vermelho, quero esse incômodo tonal inundado de sons que ocupam minha cabeça sem permitir que eu pense em outra coisa, para além da música. Quero me esconder nesse outro tipo de caixa, porque inevitavelmente é uma caixa, mesmo não sendo a mesma que aguarda por mim. Quero me esconder ali, entre os tons terrosos e alaranjados, entre os raios de infravermelho, quero sentar numa quina e ficar mexendo entre botões e knobs como se mais nada importasse.

Quero me desfazer da importância do meu corpo físico, mesmo que utilizando-o para fazer coisas que julgo importantes. Quero existir sem ser atingida, quero estar sem ser visível da forma como sou. Quero. E nem sempre posso. Posso hoje, mesmo sofrendo com o futuro do querer sem poder.

Então voltamos ao eterno dilema: sofrer pelo futuro sem aproveitar essa contagem regressiva que já existe no presente ou existir plenamente no presente, ignorando o futuro ainda não estabelecido. Sem estabelecimento, sem planejamento, apenas flutuando com o que o tempo me dá. Uma pena que o tempo não dê a si mesmo. Somos, enfim, relógios guiados pelo fluxo do tempo, mas sem conter o tempo em si. Reagimos a ele, somos afetades por ele, mas não o tocamos. Talvez, queira eu mesma ser tempo, já que o possuo sem controlá-lo.

Por fim, entre tantas divagações, existe um incontrolável medo de ter e ser o que não se pode controlar, mesmo que o controle em si seja uma mera ilusão. Já flutuamos, só não aceitamos.




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Lacuna Tropical 

laboratório de experiências de música eletrônica e discotecagem em toda a sua amplitude e pluralidade

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