[ Programa ] #167

Alô alô tropicaleiros e tropicaleiras!!

Apertem os cintos, peguem seus EPIs de segurança e já aumenta o som: preparades?




Nesta edição você confere um experimento sonoro de mixagens que Grazi Flores fez utilizando sua controladora DDJ-SB2 que, por ter ficado desligada por tantos meses, apresentou alguns problemas em suas funções. 


>> vibe

Poderia comparar a engrenagem existente dentro de mim, e simultaneamente intangível a mim mesma, a um sintetizador: modulando sons que, em algum momento, eu aciono e programo, mas que acabo por perder o controle de sua vibração e reprodução.

Existe essa nota, um bass line qualquer, que um dia nasceu dentro do meu tórax. Independente do momento, ele segue vibrando e me impelindo a reagir a ele. Poderia dizer que é a nota mi, poderia dizer que às vezes cai em ré ou que sobe em si. E assim se forma como um ponto de tensão, entre acordes dissonantes em um bpm acelerado que me sufoca na inércia que inicia em (s)cem bpms e gira em spiral na sua condição etérea e sterea. Histeria.

Num cômodo frio, de paredes rústicas e ásperas, numa usina nuclear abandonada, os sons radioativos contaminam minha personalidade que, nessa grave fissura, quebra-se em múltiplos pedaços e novamente me congela em lágrimas vazias de identidade e cheias de gordura e sal. Meu corpo processa, modula e tenciona em posturas que trazem efeitos colaterais invisíveis para aqueles que não estão na mesma matéria do eu unificado que escreve refletido entre parágrafos e palavras. Palavras articuladas em sons silenciosos, emitidos apenas pela mente que as lê.

Uma rachadura que pressiona, uma rachadura que não reproduz qualquer som quando se quebra no vácuo do breu contido no universo. Um buraco negro que suga as luzes e matérias existentes no meu próprio universo interno. Um peso que queima, que arde e que nem por isso é amor. Talvez, enfim, seja o reflexo da obsessão. 

E obsessivamente penso. Se os pensamentos se colidem em excesso, peço silêncio. Se estou só no silêncio, peço pela companhia dos pensamentos. Se penso em silêncio, colido em excesso pela minha companhia. Ou seria a excessiva companhia que tenho de mim mesma?

Meu coração bate descompassado, ansioso por uma solução que o traga para uma constância rítmica. Eis que outros projetos me chamam a atenção e me puxam com sua densidade gravitacional para um eixo que me salva de mim mesma, salva-me de ser engolida pela fúria de um buraco negro que só eu sinto.

Ascendo um cigarro. Passei a ter gosto por sentir meu corpo reduzindo sua densidade, das bochechas secando e murchando presas a estrutura óssea de meu rosto. Passei a sentir prazer em sentir que meu corpo ganha valor e perde peso. Ganha intensidade, mergulha na profundidade e sua matéria física passa a esvair-se a medida que o ponteiro do relógio corre por entre as horas em que me sustento apenas com aquilo que já absorvi e com os sons que passo a reproduzir através de uma máquina. Barulho de botões, silêncio ao redor da controladora, harmonia em caixas acústicas. 

Um brilho opaco surge em olhos que estão perdidos no vazio entre guerras. Anestesiada estou entre realidades, flutuando, dada ao próprio destino que, no final das contas, eu mesma traço.

Qual o peso do vazio? Qual o peso do corpo? Qual o peso do pensamento? Quanto peso enquanto penso? Quanto peso enquanto estou acordada? Em quanto tempo pesarei até dormir? Quando viverei durante o dia? Quando pararei de atravessar os dias em plena noite? Quando a madrugada me libertará de si? Quando retornarei a mim? O quanto sei voltar? Como permiti?

Novamente não sei se me entrego ou se já estava entregue, mas sei que flutuo, orbitando o vazio do espaço. Eis o passo que dou sem que haja a possibilidade de mensurá-lo: orbito.



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Lacuna Tropical 

laboratório de experiências de música eletrônica e discotecagem em toda a sua amplitude e pluralidade

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