[ Programa ] #177
Apertem os cintos, peguem seus EPIs de segurança e já aumenta o som: preparades?
Nesta edição você confere mais um set produzido pela Grazi Flores, desta vez feito especialmente para Tantša, com uma imersão numa ambiência bem techneira.
>> vibe
Existe esse paradoxo entre o torpor de vivenciar uma pandemia e necessidade de movimentar-se para sair da mesma.
Essa dormência que experenciamos corporalmente ao longo deste período fez com que a zona de conforto mudasse de figura e de prática, tanto física quanto mental: a introversão, como regra para a segurança, limitou nossa vivência sensorial para os recursos disponíveis em nossa casa. A experiência virtual das lives possibilitou a sublimação, exigindo certa habilidade criativa, do que um evento presencial seria. Em alguns momentos, expandimos nosso conceito do que é a experiência virtual para não apenas compará-la ao mundo físico e tangível, mas permitindo-nos imergir numa experiência que é intangível tanto quanto a cultura (num conceito mais abstrato do termo em si do que de seus produtos), mas que torna-se única através da personalidade empregada por cada agente da arte.
E esse movimento de comparação, sublimação, imersão e ressignificação encontrou uma rotina dentro de nossa introspecção do coletivo e mesmo individual (para conosco). Rotina esta que, agora, é atravessada pela pressão de ser quebrada, desmantelada, decomposta e substituída, uma vez mais, pelo universo presencial que vem retornando a ativa.
Mas uma coisa me deixa curiosa e me faz questionar esse movimento que, com o passar do tempo, certamente se tornará cada vez mais agressivo: porque o virtual e o presencial não podem coexistir, tanto de forma independente quanto de forma complementar? Por que o virtual serve apenas para "tapar o buraco" que a falta do presencial faz? Por que não podemos assimilar e imergir de forma conjunta? Onde foi parar o nosso encantamento com o início da internet e suas infinitas possibilidades de conexão? Cadê nossa curiosidade e espanto com a tecnologia como um novo universo em expansão e desbravamento?
Criamos um universo que não existia antes: a nossa espécie (homo sapiens sapiens) inventou um ambiente paralelo ao físico, que segue sem ser mensurado e que segue proporcionando a comunicação a distância entre seres humanos e o desenvolvimento de um universo sensorial voltado única e exclusivamente para a visão e a audição emulando outras experiências sensoriais de forma racional através da sublimação. É quase como se as redes de internet (hoje já em wireless) fossem as raízes que nossa espécie construiu para que pudéssemos nos comunicar, nos proteger e nos desenvolver.
O paradoxo existe pela nossa imaturidade humana de compreensão sobre nossa própria criação: somos uma das primeiras espécies (pelos menos do que é conhecido, ouso dizer) que privilegia, em nosso tempo acordades e em funcionamento, para a produção e consumo de coisas que são única e exclusivamente racionais. E ainda assim, ousamos dizer que a ferramenta que temos é superficial por não ser equivalente ao que podemos vivenciar presencialmente. Obviamente que não é equivalente: ela é completamente diferente em seu conceito e exige uma práxis bem diferente do que o o mundo tangível demanda.
Deveríamos nos permitir parar de comparar uma plataforma a outra e compreender que não existe uma concorrência: existe a possibilidade de uma interdependência entre elas. Não precisamos lutar contra o virtual para abraçar o físico.
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Lacuna Tropical
laboratório de experiências de música eletrônica e discotecagem em toda a sua amplitude e pluralidade
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